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sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Menos de um segundo

Você está no seu quarto à noite. Você ficou no computador por muito tempo e agora está quase na hora de dormir um pouco. Existe uma luz atrás de você, um simples corte de luz através da escuridão opressiva, sinal de que a manhã já estaria próxima. Em uma névoa privada de sono, você pula até o interruptor de luz e o desliga, e então percebe o erro que cometeu. Os fones de ouvido cairão no chão, e sem a luz para vê-los você provavelmente vai pisá-los e esmagá-los. Resolvendo ligar a luz de volta para que você possa pegá-los, você gasta menos de um segundo dentro da escuridão quase perfeita. Então você aperta o interruptor.

Você não está mais no seu quarto. É como se 50 anos de abandono tivessem devastado o seu quarto. Você também está cercado, apesar de não poder vê-los, suas sombras são visíveis enquanto se agacham ao seu redor. As únicas características que você pode perceber neles são seus vários dentes sorridentes irregulares, e um conjunto de brilhantes olhos vermelhos que observam você.

Você quase tem tempo de gritar, quase.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Existência

Bem, o que relatarei agora aconteceu com uma ex-professora minha da faculdade, aliás, a pessoa que tinha uma visão muito abrangente e clara dos fenômenos que abrangem a pluralidade das existências. Esta minha professora sempre teve muita dificuldade em engravidar, chegando a fazer uma série de tratamentos, no entanto em vão. Isso, até certo dia...

No início dos anos 90, ela descobriu-se grávida, fato confirmado em exame de sangue, logo nas 8 primeiras semanas gestacionais... A gestação trouxe muita alegria a ela e ao marido, mas trouxe junto um receio, um medo do tesouro tão esperado ser perdido devido às complicações naturais da gestação de maior risco.

Devido a este medo, apenas seu esposo e sua mãe ficaram sabendo da gravidez, e se comprometeram a guardar segredo até que estivesse difícil esconder a situação, devido ao crescimento uterino; porém, às vezes a vida prega peças. Duas semanas após, ocorreu o tão terrível abortamento, que foi um duro golpe para sua família...

Após 18 meses, eles foram agraciados com uma nova gestação, que graças a Deus foi a termo, e originou uma menina linda, chamada Ana Júlia.

Um belo dia, no momento com 6 anos de idade, Ana chegou para minha professora, e disse:

"Mamãe, você teria tido outro filho antes de mim, né?"

A minha professora ficou bastante surpresa, afinal combinara com todos para que o assunto fosse enterrado, tamanha fora sua dor e decepção, e não queria que sua pequena soubesse desse tipo de coisa tão cedo, e assim, pergunta:

"Quem te disse isso, Aninha?"

E a pequena responde:

"Ninguém, mamãe... Não vim naquele momento porque não estava pronta."

domingo, 25 de agosto de 2013

O Ônibus



Eu nunca me senti completa. Nunca estive satisfeita. Mas também nunca me interessei em fazer algo para mudar. Quando Robert, meu esposo não estava comigo, o que cuidava da minha ansiedade era passear com Billy. E ainda evitava que ele fizesse suas necessidades pela casa obviamente.
Eu fazia esse passeio pelas redondezas toda madrugada. Pelo menos até aquele dia. Eram 1 e 45 da manha, um babaca freou bem em cima de nós, por pouco não nos acertou. Apesar do susto o que mexeu comigo não foi isso, e sim aquele ônibus verde que apareceu. Lotado de passageiros, o motorista com cabelo milimetricamente penteado, com um sorriso que parecia sugar toda minha coragem. Ele estacionou, abriu a porta da frente e desceu.

- Está na hora de vir conosco Clarisse.

Ele disse com um tom acolhedor e ao mesmo tempo frio. Eu não entendia como ele sabia meu nome, nem porque passara por ali, já que havia nenhuma linha de ônibus nessa rua. Entre o medo, a desconfiança e a curiosidade, tudo que pude responder foi
- Não, obrigado.

Virei-me e voltei para casa. Meu marido já havia chegado.
- Onde você estava amor?
- Fui passear com o cachorro.
- A essa hora de novo amor? Amor? Ei!
- Desculpe.
- O que foi?
- Robert, qual linha de ônibus passa na rua aqui em frente a nossa casa?
- Nenhuma amor. Faz quatro anos que moramos aqui e nunca passou sequer um ônibus, e caso alguma linha fosse criada aqui, acho que saberíamos. Por quê?
- Um ônibus parou pra mim hoje. E o motorista sabia o meu nome.
- O que? Como assim?
- Eu também não sei.
- Olha amor, você anda muito estressada com os preparativos do nosso casamento, ainda decidiu parar com seu remédio para ansiedade.
- Você está dizendo que eu sou louca? Eu não vi coisa. Era um ônibus, um ônibus de verdade.
- Não estou dizendo que não era amor. Apenas durma um pouco, descanse. Amanha vai perceber que pode ter sido algo da sua cabeça.

Fui-me deitar furiosa, mas sem admitir que o que ele disse fazia mais sentido. E realmente, acordei no dia seguinte mais leve e feliz por saber que finalmente seria o dia de escolher o vestido.
O olhar das moças do ateliê eram os juízes da minha escolha. Se eu escolhesse um que fizesse os olhos de todas elas brilharem, esse era o certo.

- O que é isso no seu nariz Clarisse?
Uma senhora me questionou com espanto.
- O que?

Minha calma e leveza foram embora quando levei as mãos ao rosto e percebi que o sangue escorria pelo meu nariz. Senti-me sufocada. Precisava de ar e por isso corri para fora da loja. Lá fora estava ele me esperando. Aquele mesmo ônibus. Os mesmos passageiros. E o mesmo motorista parado na porta com seu sorriso.
- Eu não posso esperar mais Clarisse. É hora de vir conosco.
- Não! Você não vai me levar!

Naquele momento tudo fez sentido. Talvez aquele carro... Aquele carro não "quase" me acertou. Aquele carro me atropelou. É isso. Estou morta, não me resta nada a não ser me entregar. Mas agora não, agora eu tenho tudo. Vou me casar. Não posso abandonar tudo isso. E não vou! Voltei para dentro da loja.
- Moça, chame a policia, por favor!
- O que houve minha jovem?
- Aquele homem está me perseguindo!
- Quem?
- Aquele dentro do onib...

Era até óbvio. O ônibus não estava mais lá.

- Menina, sente-se. O que aconteceu? Seu nariz está sangrando.

Aquela gentil senhora limpava meu rosto e eu sequer podia sentir suas mãos. A imagem do ônibus, aquele sorriso macabro, nada daquilo deixava minha mente a sós por sequer um segundo. Acho melhor ir pra casa. Um banho deve esfriar minha cabeça.
A água fria pelo meu corpo me dava uma falsa sensação de alívio. Saí do banho e fui me secar. Meu cachorro me olhava quase implorando para passear.
- Desculpe Billy, você sabe quem está lá fora esperando por mim.

Será que esse seria o meu destino? Presa dentro de casa, com medo de um ônibus que sequer existe. Presa na dúvida. A vida é minha e ninguém pode me tomar. Pela primeira vez eu não senti medo. Eu estava pronta pra enfrentar tudo aquilo. Eu não podia fugir mais. O medo deu lugar à confiança. Aprontei Billy, pus um casaco e saí. Já era tarde mesmo, quase duas da manha. Depois de uma pequena caminhada, lá estava ele me esperando. Vi o ônibus fazer uma curva e vir até a mim. Ele estacionou e como sempre, o motorista desceu.
- Clarisse, não seja egoísta, você não é a única aqui. Você tem que vir conosco.
- Não, eu não vou!
- Você tem certeza?
- Tenho!

Eu gritava tão determinada que não percebi que Billy escapava das minhas mãos e entrava no ônibus.
- Não Billy, vem cá! Devolva meu cachorro!
- Não posso Clarisse, foi ele quem escolheu.
Eu não sabia se devia continuar e deixa-lo, eu o amava demais. Mas manti minha posição.
- Eu não vou! Essa é a minha vida eu escolho!
- Não Clarisse... Essa não é a sua vida. É a vida que você poderia ter tido...
O homem voltou para seu banco, fechou a porta e foi embora. Acho que agora sim, está tudo resolvido. Nunca mais verei aquele maldito ônibus. Sinto-me mais leve, porém de um jeito estranho. Toda aquela preocupação e ansiedade se foram, agora eu só vejo uma luz. Uma luz intensa. Finalmente eu acho que terei paz.

- Minha nossa, que horrível!
- Eu a conheço, ela se chama Clarisse, é minha vizinha.
- Esperem! O cachorro está vivo, isso só pode ser um milagre!


Via: Predomínio do Terror 

sábado, 24 de agosto de 2013

Vozes



Você já "ouviu coisas"?
Você sabe do que estou falando?

Quando você acha que ouviu alguma coisa, mas não ouviu de verdade. Como quando você está no chuveiro e ouve alguém te chamando, mas não há ninguém. Ou quando está em uma festa e ouve seu nome.
Não é apenas um truque do seu cérebro. Quem dera se fosse.

Não, aquela voz pertence a própria morte. Sempre chamando, esperando que você responda, que você siga. Eu sei que se você ignorar, fingir que é coisa da sua cabeça, tudo vai continuar bem. Mas se você for ver quem te chamou naquele banho, ou ir atrás de quem te chamou naquela festa... bem... certas coisas são melhores quando permanecem como mistério.



Via: Caçadores do Medo

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Falta de Empatia



Eu não era como as outras crianças no jardim de infância, cresci diferente. Nunca participei das babaquices daqueles fedorentos nem dos seus jogos estúpidos. Mas eu tinha minhas próprias brincadeiras. Uma vez uma menina pediu minha caixa de giz-de-cera, e eu disse que emprestaria se ela mandasse a professora se foder. Ela foi mandada pra casa por ter feito isso, e eu pude ouvir sua mãe gritar sobre a surra que ela ia levar quando chegasse em casa. Brincadeiras divertidas né?


Não levou muito tempo até os professores notarem que as outras crianças me evitavam e que eu nunca mostrava nenhuma emoção. Eles só sussurravam pelos corredores e julgavam que eu não ouvia, mas eu sempre tive uma audição excepcional. "Monstrinho" dizia a Sra. Guthrie. "Sociopata" dizia o Sr. DePascal. Mesmo em minha tenra idade, eu tinha um vocabulário bem extenso. Nunca havia escutado o termo Sociopata antes e fiquei intrigado. Ao chegar em casa procurei a enciclopédia da minha mãe e li. Sociopata; "um desvio de personalidade caracterizado por uma falta de empatia por outros." Tive que concordar com o Sr. DePascal.

O primário e o ensino fundamental passaram rápido. Aprendi a fingir emoções e enganava todos a minha volta, meus pais, meus professores, as pessoas em geral, exceto meus pares. Acabavam percebendo que eu tinha algo de "errado" e decidiam me deixar. Alguns decidiam se tornarem meus amigos, ai eu podia me divertir um pouco. Independente de como eu tratava esses ao meu redor, eu não os odiava. Só não me importava. E foi assim até o colegial, até quando alguém conseguiu me irritar de verdade. Esse alguém foi Travis Murphy.

Os Murphys se mudaram para minha vizinhança um pouco antes de começar o 1º ano. Tinham dois filhos. Um filho, Travis, e sua irmã, Marion. Estava apenas esperando o momento inevitável em que meus pais os convidariam para nos visitar. Nem Travis nem Marion haviam me conhecido ainda, por tanto não sabiam de minhas tendências sociopáticas. Eles me divertiriam um pouco. Mas dessa vez eu seria ignorado, e não o ignorador. Marion foi fácil, mostrando o interesse normal e a bondade daqueles que não conheciam minha condição. Após um tempo, entretanto, percebi que ela me achava bonito e estava inclusive desenvolvendo um interesse em mim. Decidi manter ela fora de meus joguinhos por um tempo . Nenhuma garota havia se interessado por mim antes, então era uma experiência totalmente nova. Decidi deixá-la por perto, então mantive os sorrisos falsos, fingindo interesse nas coisas que ela dizia. Travis era uma história totalmente diferente. Ele parecia se interessar muito pouco em mim, do mesmo jeito que eu me interessava pouco por todos os outros. Não conseguia jogar meus jogos com ele. Ele não se importava com nada. Senti raiva pela primeira vez em minha vida. Com o passar dos anos, havia descoberto que eu era especial, bem mais importante que os insetos ao meu redor. Agora, porque um desses insetos ousava me ignorar? Pela primeira vez em minha vida, eu dei o primeiro passo. Tentei falar com Travis, fingindo emoções e interesse em sua vida e tudo que pude para fazê-lo se interessar em mim.

Nada.

Fiquei furioso a princípio sobre sua total falta de interesse, mas com o passar do tempo descobri que ele era igual a mim, um Sociopata. Completamente evitando se importar com os outros. Ao invés de aliviar minha frustração, isso só a aumentou. Eu era especial, único! Mas agora havia outro como eu. Se eu não era único, como eu poderia continuar sendo especial? Ou seria eu só mais um? Só outro inseto? Não! Me recusava a ser mais um na multidão. Um de nós precisava morrer. E foi assim que me decidi a partir daquele dia. Tornaria Travis Murphy só mais um dos insetos. Eu o mataria.

Guiado por essa razão eu segui, esperei. Colegial passou rápido e logo a Faculdade. Aprendi novos meios de me expressar com Marion através do sexo. Aprendi o valor da dor e como fazê-la implorar por isso. A princípio foi tudo muito fascinante, mas, como todo o resto, eventualmente perdeu seu mistério. Minha concentração se mudou novamente, de Marion para Travis. Estava completamente pronto para matá-lo. Porém cuidadoso. Não era ingênuo o suficiente para achar que os insetos me deixariam em paz se soubessem que eu havia o matado. E eu queria evitar a prisão a qualquer custo. Não temo nada, exceto tédio, e a prisão não passa disso, tédio após tédio, sem fim. Não podia agir impulsivamente. Deveria ser frio e calculista. E ao passo que levava meu tempo pensando em como fazer isso, percebi que podia me divertir um pouco!

Minha primeira chance de brincar com minha presa veio pelo segundo semestre da faculdade. Travis e sua família sairiam por uma semana para visitar parentes ou qualquer merda assim, e deixariam o cachorro em casa. Pagavam para os vizinhos tomarem conta dele, dando a ele comida e levando-o pra passear. Observei esse comportamento por dois dias, vendo a rotina e planejando minha ação. Uma noite antes dos Murphys retornarem, invadi a casa deles logo após um dos vizinhos ter deixado o cachorro lá. Marion havia me dado o código de segurança do alarme de ladrão para que eu pudesse entrar na casa escondido pra conseguirmos transar. Usando luvas e uma máscara, entrei na casa, sem ser visto por meus vizinhos que dormiam. O cachorro me conhecia pelo cheiro e não latiu. Veio até mim abanando o rabo e com a língua pendurada. Trabalhei rápido. Segurei sua cabeça entre minhas mãos e a esmaguei, enfiando meus dedões em suas órbitas e amassando seu crânio. Ele só soltou um fino e baixo ganido antes de morrer. Bom garoto.

Havia trazido comigo meu kit caseiro, meu bisturi e vários outros instrumentos roubados do laboratório de ciências. Dissequei o cachorro e pendurei seus intestinos no ventilador de teto da sala. Imaginar eles entrando em casa, ligando as luzes e o ventilador junto e serem banhados por sangue e restos mortais caninos me divertiu. Usei o sangue para escrever "VOCÊ É O PRÓXIMO" na parede do quarto de Travis. Como piada interna, deixei o coração no travesseiro de Marion. Satisfeito com meu trabalho, voltei a meu dormitório na faculdade e dormi pesadamente.

Houve uma grande comoção na semana seguinte à chegada dos Murphys. Histórias da carnificina e fotos da casa estavam em todos os jornais locais todos os dias e noites. Haviam rumores que os Murphys se mudariam logo. Aparentemente a Sra. Murphy não conseguia entrar na casa. Deveria agir rápido, não podia deixar minha presa fugir. Sentado em meu dormitório, sonhei com várias maneiras de destruir meu inimigo. Então houve uma luz incidente do lado de fora através da minha janela até a parede. Era estranho. Era quase meia noite de um sábado. Quase todos haviam ido embora. Tomado pela curiosidade, fui até a minha janela e tentei ver quem estaria vindo aos dormitórios a essa hora da noite, e confesso que me surpreendi um pouco ao ver o carro de Travis estacionado lá. Destino sorrira para mim. O prédio estava praticamente vazio, quase ninguém ficava nos fins-de-semana, era a hora perfeita de atacar. Minha presa Não desconfiava de nada e estava sozinha. Após matá-lo, esconderia o corpo em algum lugar do campus. Haviam chances quase nulas de que eu fosse pego. Não havia luz no Campus por mais ou menos seis horas em diante. Nada de luzes, nada de câmeras de segurança. Em um humor consideravelmente animado, peguei minha lanterna e bisturi e fui atrás de minha presa.

O escuro nunca me perturba. Tendo poucas emoções, minha mente racional tende a dominar a parte da mente humana que julgar sempre ter algo nos esperando no escuro. Ou ao menos, o que achamos estar lá. Minutos após iniciar minha caçada percebi que deveria desligar minha lanterna para não alertar minha presa.  Apaguei-a e esperei meus olhos se acostumarem com a escuridão. Me encostei na parede e brinquei com meu bisturi para passar o tempo enquanto minha visão se ajustava. Uma pessoa normal não teria ouvido a respiração fraca do outro lado da parede, mas como já disse, tenho uma audição privilegiada. Virei minha cabeça na escuridão para procurar de onde vinha o som, mas minha visão ainda não distinguia muito bem figuras na escuridão, mas consegui ouvir incomuns passos suaves. Quem quer que fosse, estava tomando muito cuidado para não ser notada. Segundos depois, fui até o lugar onde havia escutado os passos e respirei fundo. Apenas uma leve essência de canela estava no ar. Travis tinha um purificador de ar de canela em seu carro. Abri um largo sorriso. Eu estava no rastro de minha presa. Segui-o pelo corredor para me deparar com um cruzamento de corredores. tentei respirar para sentir a essência de novo, mas não foi preciso. Ouvi um barulho vindo de um dos corredores e pensei que se Travis estivesse tentando me evitar, não faria tanto barulho assim. resoluto, segui cautelosamente na direção do barulho. Após um minuto, parei, Logo a minha frente, havia algo no chão. Me aproximando cautelosamente, percebi que era um corpo em uma piscina de sangue. Toquei. Ainda quente. Virei o corpo. Era o Sr. Chauncey, vigia noturno. Não havia percebido que  Travis fosse capaz de matar alguém. Em meu ódio por ele, havia me esquecido que ele era como eu. Capaz de coisas que eu faria, também. Congelei. Havia uma respiração baixa em minha frente de novo, mas eu não conseguia ver sua fonte. Pela primeira vez em minha vida, novamente, senti medo. Não me sentia mais o caçador, mas sim a caça. Minha mente racionalista foi tomada por emoções e eu corri de volta ao meu dormitório em terror. Bloqueei minha porta e esperei. Com bisturi em mãos, para o caso de Travis voltar.

Após um tempo, comecei a me sentir estúpido por ter feito aquilo. Ele era só um homem, por mais que extraordinário. O fato dele ter me assustado de verdade só me deixou mais furioso por ter deixado minha busca. Retomei-a e fui até o mesmo local novamente. O corpo do Sr. Chancey havia sumido e o sangue havia sido limpo. Os tons de canela no ar haviam a muito sumido. Deixei o prédio e fui até o carro de Travis para descobrir que ele havia ido embora. A fúria me dominou. Fui andando até sua casa. Segurei meu bisturi com força, fantasiando sobre o que eu faria a ele. Deveria ter devaneado menos e prestado mais atenção, pois não pude ver de onde Travis veio quando seu taco de beisebol atingiu meu pulso. Senti os ossos se quebrarem. Soltei o bisturi, tentei pegá-lo com minha mão boa mas um chute inutilizou ela também. Olhei para cima e vi Travis sorrindo para mim. Me bateu com o taco diversas vezes. Pensei que ele nunca pararia, mas ele parou. No meio fio, ensanguentado e quebrado, esperei a morte. Quando re-abri meus olhos, ao invés de ver o ceifador, vi o rosto de Travis sorrindo novamente. Mesmo que totalmente inutilizado e incapaz de fazer qualquer coisa contra ele, ainda queimava em ódio. Ele se aproximou de meu ouvido e sussurrou; "Nós vamos nos divertir tanto juntos!"

Passei duas semanas no hospital antes de sair, contra a vontade do meu médico. Travis claramente se conteve na surra. Só quebrei alguns ossos e algumas costelas, mas grande parte do meu corpo estava cheio de hematomas. Cada passo que eu dava doía, mas eu ignorava. Eu tinha um propósito, Eu nunca seria a vítima de novo. Travis tinha vantagem sobre mim, sabendo que ele não estava machucado como eu. Então pensei nas probabilidades. Decidi. Roubei a pistola que meu pai guardava em casa e esperei a noite cair.

Era mais ou menos 3 da madrugada quando invadi a casa dos Murphy de novo. O carro dos adultos não estava, mas o Mustang de Travis estava lá. Bom. Nós não seríamos interrompidos. Eu poderia tomar meu tempo. Desliguei o alarme de ladrões enquanto pensava o quão estúpido os Murphys haviam sido em não mudar o código. Todas as luzes estavam desligadas mas meus olhos estavam ajustados com a escuridão. Silenciosamente aproximei-me do quarto de Travis. Tomei forças e entrei. Não estava preparado para o que vi.

Travis estava em sua cama, com um olhar de surpresa em seu rosto. Sua garganta cortada de canto a canto. Sangue em todo lugar, incluindo a mensagem nas paredes que dizia "MAU MENINO". Em minha surpresa, não ouvi a respiração leve atrás de mim, e nem os passos suaves. Não lembro de mais nada dos momentos seguinte, só de uma pancada surda e forte em minha cabeça.

Acordei no porão, amarrado a uma cadeira. Meus primeiros pensamentos era de como aquilo era clichê. Meus olhos levaram uns segundos para abrirem totalmente e pude ver uma figura nua na minha frente, coberta em sangue. Presumi que fosse Travis. Através do pulsar da dor em minha cabeça, escutei a figura falar. "Não queria que fosse assim. Porque vocês rapazes não podiam simplesmente se comportar?" A figura andou para frente. "Ninguém nunca faz o deveria fazer. Você não deveria ter me encontrado e nem o Sr. Chauncey deveria ter entrado em meu caminho". A figura parou a centímetros de mim. "Travis não deveria ter te machucado. Disse a ele para não fazer aquilo, mas quando ele descobriu o que você era, ele não pode se conter. Suponho que você estava atrás dele também?" A figura acariciou meu rosto carinhosamente. "Eu vi você quando matou nosso cachorro. Você nunca soube que eu estava ali. Eu sou muito boa em me esconder. Foi tão gentil de sua parte deixar o coração em meu travesseiro. Eu ainda o guardo." Marion sorriu para mim. Eu pude ver algo em seus olhos. Algo que eu não tinha. Que Travis não tinha. A parte absurda do cérebro que mostra a diferença entre um Sociopata e um Psicopata. Nós temos os pensamentos mais bobos nas situações mais bobas, não é?

"Não queria que as coisas fossem assim, mas tudo bem. Nós daremos um jeito. Vou matar meus pais quando eles chegarem e nós vamos para bem longe, algum lugar bonito e distante onde possamos ficar juntos para sempre." Pensei em fingir uma emoção e tentar manipulá-la para que me deixasse ir, mas quando olhei em seu rosto, vi que era inútil. Ela não se importava com minha situação. Só com a dela. Completa falta de empatia.


quinta-feira, 22 de agosto de 2013

A Dama de Branco



Na maioria das vezes, a lenda fala de uma mulher loira (que pode ser trocada por uma índia ou prostituta) que fica na beira da estrada pedindo carona para os motoristas que passam, quando um resolve parar (muitas vezes caminhoneiros) ela conduz a pessoa até um cemitério próximo, chegando lá a bela mulher desaparece deixando o motorista sem entender nada, logo depois ele a reconhece na foto de uma das lápides.

Em outras versões ela simplesmente desaparece dentro do próprio veículo, depois o motorista descobre pelos moradores das redondezas que a moça havia sido atropelada há muitos anos naquela mesma estrada.
Algumas vezes, antes de desaparecer, o espírito da mulher pede ao motorista que ele construa uma capela no lugar onde ele a encontrou para que assim ela possa finalmente descansar em paz.
Há ainda versões em que ela se deita com o motorista que quando acorda no dia seguinte descobre que ela simplesmente desapareceu sem deixar vestígios de sua existência.
Uma versão mais sangrenta diz que a loira, antes de desaparecer, seduz o motorista que quando tenta beijá-la, acaba perdendo a língua.

Alguém  lembra do primeiro episódio de "Sobrenatural"? O 1° Caso de Dean e Sam Winchester é justamente o de destruir a Dama de Branco.

Outras versões dessa lenda se passam em cidades grandes e são protagonizadas por motoristas de táxi, nelas o taxista recebe uma passageira muito bela e jovem, ela pede uma corrida até um cemitério qualquer da região, chegando lá ela dá ao motorista o endereço de sua casa e diz que lá ele irá receber seu pagamento, no dia seguinte, quando o motorista vai receber o dinheiro, o pai da menina lhe diz que é impossível sua filha ter feito essa corrida, afinal, ela havia morrido há muitos anos. O taxista, sem entender nada, fica ainda mais confuso ao reconhecer numa foto a menina que ele conduziu no dia anterior.